Matriz econômica mais limpa e novas tecnologias sustentáveis: a missão do novo pilar da Agenda BC#
A dimensão Sustentabilidade da Agenda BC# traz iniciativas para o SFN relacionadas à responsabilidade socioambiental, riscos climáticos e à cultura de sustentabilidade
Publicado em 24.09.2020 em Notícias
O termo “sustentabilidade” deriva diretamente do conceito de desenvolvimento sustentável e pode ser compreendido como viabilidade econômica, justiça social e conservação ambiental de um projeto ou ação. O Banco Central do Brasil, como instituição pública que tem entre seus valores organizacionais a prática da responsabilidade social, vem se dedicando, há alguns anos, ao estudo e ao desenvolvimento de ações de responsabilidade socioambiental.
No último LIFTtalks, que destacou o lançamento e os desafios da nova dimensão da Agenda BC#, o Líder de Inovação da Fenasbac, Rodrigoh Henriques, conversou com três especialistas do Banco Central que estão à frente da implementação do novo pilar: Diogo Nogueira, Ricardo Harris e Adalberto Cruz.
Durante a live, o trio reforçou que essa dedicação do BC por um desenvolvimento sustentável é expressa por meio - tanto de ações internas quanto do exercício do papel de regulador frente ao Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Adalberto Cruz destacou que o posicionamento sustentável do BC acontece desde 1995, com o marco do primeiro Protocolo Verde. Desde então, a instituição vem participando de discussões sobre a disseminação das melhores práticas de sustentabilidade nos negócios financeiros e na economia. A inclusão da dimensão na Agenda só reforça as ações que vêm sendo feitas há anos e é um convite às organizações e sociedade para atitudes e negócios mais conscientes e para a mudança de comportamento.
“É importante dizer que essa é uma mudança que atinge todo o tecido da sociedade. As empresas, as organizações e as pessoas passam por uma revisão de como lidam e tratam seus negócios, dentro de uma perspectiva que nós temos chamado de ESG, que é o Environmental, Social and Governance*.” - Adalberto Cruz.
*ESG (sigla em inglês para padrões ambientais, sociais e de governança). Saiba mais sobre Environmental, Social and Governance:https://bit.ly/33KKf6Q
“O lançamento da Agenda BC# Sustentabilidade é um marco importante porque estabelece um divisor de águas da seguinte forma: organiza esse background enorme que a gente tem, esse papel de liderança que a gente desenvolve há alguns anos; ao mesmo tempo que estabelece os próximos passos, o caminho a seguir, a ação futura." - Diogo Nogueira.
Uma resposta à emergência de novos riscos e de novas demandas da sociedade
De acordo com o BC, a crescente interação com outros bancos centrais e organismos internacionais, assim como o frequente diálogo com instituições financeiras, são importantes para determinar a evolução da atuação e minimizar os efeitos de riscos socioambientais e climáticos na economia e sistema financeiro do país.
As alterações no clima põem em risco várias questões, podendo alterar a demanda por moeda, valores de bens físicos e de colaterais, além de trazerem custos financeiros altos para a sociedade como um todo.
“A inserção desse tema na nossa agenda acontece a partir de três dimensões: uma demanda da sociedade, os riscos que isso ocasiona para o negócio dos bancos e a própria questão estrutural da economia: a busca por uma matriz econômica mais limpa, com novas tecnologias.” - Adalberto Cruz.
O propósito é preparar o sistema financeiro para um futuro tecnológico inclusivo. O BC está constante desenvolvimento de estudos e ações sobre pagamentos instantâneos (conheça o Pix), open banking, blockchain, inteligência artificial e supervisão do risco cibernético.
Sistema Financeiro Nacional
Para corresponder aos objetivos do Banco Central determinados por lei, de assegurar a estabilidade de preços e garantir a solidez e eficiência do sistema financeiro nacional, é preciso responder adequadamente a essas mudanças estruturais na economia. A formulação de políticas do Banco Central deve considerar os riscos socioambientais e o impacto de eventos extremos na economia e no sistema financeiro.
“O papel do Banco Central tem que estar bem delimitado aqui nessa questão. Existe uma clara correlação entre a discussão dessas mudanças climáticas e os mandatos do Banco Central. Os objetivos do BC estão relacionados à estabilidade de preços e à estabilidade financeira. Os riscos climáticos que antes eram considerados raros, estão se tornando cada vez mais frequentes e esses eventos têm potencial de impacto nas principais variantes econômicas para a política monetária: seja afetando preço de energia, preço de alimentos.” - Ricardo Harris.
“Uma das coisas mais interessantes do Banco Central, é essa abertura e essa clareza de atuação estratégica com a Agenda BC#, que dá essa consciência para toda a sociedade sobre essa linha de atuação e o compromisso que o Banco Central tem com a competitividade de mercado, inclusão, transparência, educação financeira, cidadania e, agora, a clareza da sustentabilidade.” - Rodrigoh Henriques.
Oportunidades para o mercado
“A oportunidade maior que a gente vê, claramente, é no desenvolvimento das finanças verdes, das finanças sustentáveis. A gente tem o Acordo de Paris, na tentativa de diminuir a emissão de gases de efeito estufa. O compromisso ocorre no sentido de manter o aumento da temperatura média global em bem menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e de envidar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. O diagnóstico que se faz é que você não consegue fazer isso da noite pro dia.” - Ricardo Harris
“A gente vive um contexto muito severo em termos orçamentários. Uma oportunidade que eu vejo, muito clara, é a possibilidade, por meio de tratativas, com players internacionais de conseguir oportunidade de recusros, assistência técnica, conhecimento, pra gente fazer um diagnóstico completo e amplo dos nossos problemas, dos nossos riscos, das nossas situações, para que a gente desenvolva modelos e produtos bem balizados com base num diagnóstico correto.” - Diogo Nogueira.
“Os maiores investidores internacionais só investem quando há tem garantia em criar um produto ambientalmente sustentável.” - Adalberto Cruz.
Segundo o Global Sustainable Investment Alliance, o segmento de investimento responsável já chega a US$ 31 trilhões, o que representa 36% dos ativos financeiros totais sob gestão no mundo. Dados da Morningstar compilados pelo Morgan Stanley em um estudo de 2019 mostram que existiam 281 fundos de investimento nos EUA com foco em ESG, aumento de 144% no número de fundos desde 2004.
Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostram que em junho deste ano o valor aplicado em fundos de ações sustentáveis, somou R$ 543,4 milhões, crescimento de 29% em relação ao mesmo mês de 2019. Mesmo assim, representa apenas 12% do patrimônio dos fundos de ações e 1% da indústria de fundos de investimentos.
Há uma oportunidade muito grande para o Brasil em captação de recursos e tração de investimentos internacionais. Nos últimos 12 meses, ao menos seis novos fundos ESG entraram nas prateleiras de produtos disponíveis no Brasil: um da gestora digital Warren (Warren Green FIA – BDR Nível I), lançado em setembro de 2019; um fundo da SulAmérica (Total Impacto FIA), vendido desde dezembro do ano passado; um da gestora JGP, o JPG ESG FIC FIA; e três só da XP Asset Management, o Trend ESG Global, o Selection ESG e o JGP ESG Ações 100 Prev XP Seg FIC FIA.
“Essa transição vai exigir muito investimento público e privado, na ordem de trilhões de dólares. Então, esse mercado de títulos verdes tem crescido nos últimos anos em taxas exponenciais e a expectativa é que ele cresça mais ainda. E aqui no Brasil, mais importante que o anúncio dessa nova dimensão, é a sinalização para os agentes.
Têm medidas que a gente vai ver o impacto formal só ano que vem, algumas só em 2022, mas os agentes sabendo que o regulador estar indo nessa linha, eles já começam a se antecipar.” - Ricardo Harris
Green bonds
Os green bonds ou títulos verdes, são títulos de dívida emitidos para a captação de recursos para investimentos em projetos de sustentabilidade que visam a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Podem ser Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), debêntures, debêntures incentivadas de infraestrutura, Letras Financeiras (LF), notas promissórias, Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI).
O mercado brasileiro de títulos verdes movimentou US$ 1,2 bilhão em 2019, quase seis vezes mais que o registrado no ano anterior (US$ 209 milhões), de acordo com monitoramento da Climate Bonds Initiative (CBI). No mundo, são mais de US$ 257 bilhões em títulos verdes de 496 emissores, segundo a CBI.
Bureau Verde do Crédito Rural
A nova agenda inclui a criação de um bureau verde do crédito rural, que substituirá o Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor) do BC pela modalidade open banking. Nesse formato, os dados dos clientes ficam abertos para consulta por diferentes instituições financeiras.
“Essa iniciativa partiu de um diagnóstico de o porquê que o mercado de finanças verdes ainda não desenvolveu na sua plenitude. Há algumas causas para isso. Há uma ausência de uma taxonomia padronizada, que dê segurança para classificar determinados ativos como “verdes”, vamos chamar assim. E os investidores querem a segurança de estar investindo em um ativo realmente verde.” - Ricardo Harris.
O bureau vai incorporar critérios que identifiquem operações com características verdes, promovendo o cruzamento com informações de georreferenciamento, por exemplo. A meta é aumentar em até 20% os limites de contratação para operações de crédito rural que reúnam características de sustentabilidade.
Assista à live completa!
LIFT Talks - Sustentabilidade, a nova dimensão da agenda BC#
O LIFTtalks é produzido pela Fenasbac com o apoio do Banco Central, que também coordena o ecossistema LIFT.
Fontes e referências:
-
Banco Central inclui dimensão Sustentabilidade na Agenda BC#
https://www.bcb.gov.br/detalhenoticia/485/noticia
-
Agenda BC# - Dimensão Sustentabilidade:
https://www.bcb.gov.br/conteudo/home-ptbr/TextosApresentacoes/Agenda_Sustentabilidade_8.9.20.pdf
-
Acordo de Paris:
https://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris
-
Conheça quais investimentos sustentáveis estão disponíveis para o brasileiro:
-
Climate Bonds Initiative:
-
Banco Central lança agenda de sustentabilidade ambiental:
-
Protocolo Verde:
https://www.mma.gov.br/estruturas/182/_arquivos/protocolo_verde_carta_de_intenes_1995.pdf
Últimas notícias:
3F - Futuro, Finanças e Florestas: evento reuniu lideranças para debater o futuro das finanças sustentáveis no Brasil
COMUNICADO FENASBAC SEGUROS 01/2024
Nota de pesar Eronides Batista Pituba
Fenasbac, Icatu Seguros e Executiva Corretora celebram renovação de parceria
Fenasbac, Icatu Seguros e Executiva Corretora celebram renovação de parceria
COMUNICADO FENASBAC SEGUROS 01/2023
Fenasbac é oficialmente apresentada como instituidora do plano CentrusPrev+
LIFT Day
COMUNICADO FENASBAC SEGUROS 01/2021
Fenasbac e Icatu Seguros: 20 anos de parceria
Com apoio da Fenasbac, Banco Central, Brazil Quantum e Microsoft exploram o uso de criptografia pós-quântica para melhorar segurança do Sistema Pix
COMUNICADO FENASBAC SEGUROS 01/2022
Nota de pesar Carlos Alberto Filardi
Informe conjunto FENASBAC e ASBAC Porto Alegre
Pix: a chave mestra para um mundo de possibilidades
Altíssima complexidade e poder de transformação - Uma conversa com especialistas do BC sobre a Gestão Estratégica de Tecnologia do Pix
Base de dados para atender à nova Lei Geral de Proteção de Dados
Padronizar é democratizar - Pix é um importante passo rumo ao sistema financeiro do futuro, tecnológico e inclusivo
Investimento e regulação: dois pilares essenciais para as fintechs no Brasil
LIFTday 2020 - Evento apresentou os 17 protótipos concluídos na segunda edição do LIFT